sábado, 30 de outubro de 2010

Livros Baianos

A Editora Kalango cuida dos livros da XamAM com o carinho que é peculiar a essa empresa baiana localizada na Fundação Terra Mirim.É tocante ver as horas dedicadas pelo editor a cada detalhe, a cada reedição dos livros,não só da XamAM, mas a todos os livros que fazem parte do catálogo dessa empresa, que com recursos próprios vai trazendo ao difícil mercado editorial brasileiro suas inovações e sua ousadia. Prestigie o que é nosso e acesse o site da Editora, comprovando a palavra da XamAM. Importante salientar que pela qualidade desenvolvida em seus trabalhos a editora já conseguiu vencer alguns editais e publicar livros de excelentes autores baianos. O  lançamento mais recente, ganho através de edital Secult- Ba, foi a série Licuri, composta por tres livros, no dia 27 de outubro. Outro trabalho muito lindo, de responsabilidade da Kalango, é o livro Lendas Africanas da autora Iray Galrão. Pra quem gosta de saber a origem do mundo de acordo com a cosmologia africana, esse livro é imperdível, aliás, eu digo a vocês que as escolas da Bahia deveriam adotá-lo em seu cotidiano.

Sonhos de mim

Quando cheguei do Peru, havia tanta coisa a fazer, tantas reuniões me aguardando. Porém meu corpo pedia sossego, recolhimento, afinal tinha vivido tantos ritos e um sem número de revelações haviam me sido ofertadas. Fui andar pela nossa mata atlântica, região onde se encontra a Fundação Terra Mirim (FTM), aqui em Simões Filho e solicitei força. Ví um forte índio à minha frente com o peito nu, calça até os joelhos e na cabeça um imenso cocar. Todos os detalhes eram azul e branco. Ele me sorria e me passava energia. Seria essa visão um sonho? Sim, era um sonho de uma outra realidade que se apresentava a mim naquele momento. Ele, um caboclo de pele dourada vinha responder ao meu pedido de ajuda. Saí da mata renovada e pude continuar os projetos sociais com o povo das oito comunidades de nosso entorno. Consolidar minha participação nos Conselhos Municipais, fortalecer as comunidades e encorajá-las a buscar seus direitos. Agora, uma nova missão se apresentava: reunir o povo pra discutir os impactos que os "melhoramentos" da rodovia BA 093 nos traria. Junto com a área ambiental, mobilizamos povo, gestores municipais e representantes da construtora responsável pela obra. Uma forte reunião aconteceu em nossa instituição. A partir daí, formamos um comitê que já se reuniu uma outra vez e outras reuniões já estão planejadas. A Prefeitura local mostrou-se do nosso lado e apresentou um pedido de embargo da obra até que tudo fique claro entre as diversas partes envolvidas. Queremos melhoramentos sim, por direito e não por imposição. Afinal somos nós que vivemos aqui e que lutamos por uma vida melhor . Esse é um outro sonho da XamAM, por isso ela vive incentivando comunidades, realizando mutirões, recebendo jovens pra experiência residencial em sua comunidade Terra Mirim.Que os guias nos ajudem.

Desdobramento de Ações

E a vida no Vale do Itamboatá, região onde a Fundação Terra Mirim (FTM) está localizada e onde a XamAM vive, continua pulsante. São histórias de violência, de falta de sensibilidade, de escolas sem aulas, de dores do feminino. Mas nada disso impede o ânimo da XamAM em continuar seu exercício de cidadania. Digo a vocês que `as vezes me bate um cansaço, um "não tem jeito" me chega. Mas lembro dos animais famintos desse vale, das árvores destruídas,das crianças sem suporte, das mães corajosas e dos homens de bom coração. E sigo. Faço arte com os jovens voluntários que aqui chegam das cidades querendo ajudar na reconstrução solidária desse mundo. Vou com eles, deixo-me guiar por seus instrumentos musicais e por seus sonhos. 

E dessa forma foi realizado o Ecoart, um evento muito belo que contou com a participação, entre outros, de 80 capoeiristas. A roda se fez e nosso Mestre Dal dirigiu os batizados daqueles jovens que trazem no sangue os sagrados vírus da Mãe Terra da resistência e da coragem. Há que se manter viva a importante tradição e a XamAM ora e trabalha pra que um raio de luz possa surgir e a tradição consiga sobreviver.

Poetando na Lua Cheia

O dia chuvoso parecia anunciar uma noite fria. A terra agradecida acolhia o sêmen que vinha do céu nublado, o silencio dos pássaros nos chamava ao recolhimento e a reflexão. À noite, um grupo de buscadores se dirigiu à mata atlântica local para um realizar um rito xamânico com uma das poderosas ervas utilizadas pelos curadores e mestres da Tradição indígena. A XamAM, que traz no sangue a marca das três raças, sente o local, o odor do amor e da força. A lua vai surgindo no céu, brilhante, linda, qual uma nave a aguardar aquele pequeno grupo de buscadores. A noite se transforma em um dia claro e as nuvens se retiram abençoando o momento sagrado. E os poetas poetizam, a nave nos conduz, a Senhora dos Mundos nos acolhe em seu colo de Mãe Eterna.
Os poderosos cânticos se fazem e a oração ecoa pelo Vale com  a intenção de paz e sossego. Possam os senhores da guerra e da destruição escutar nosso clamor. E que a Deusa nos guie.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Xamanismo

Há muitos anos, quando a XamAM iniciou esses caminhos de escuta das matas, das pedras, dos seres visíveis e invisíveis achavam que ela estava indo por caminhos falsos e perigosos. As centenas de clientes da XamAM incomodavam aqueles/as cujos consultórios permaneciam vazios. A psicologia bateu pesado e os invejosos criaram fantasias e mentiras em torno daquela que ousava trazer algo que nunca havia sido escutado e pensado na Bahia e pode-se mesmo arriscar dizer, no Nordeste. Era um tempo difícil e cheio de armadilhas. O tambor tocado era confundido com seitas religiosas, as vivências eram condenadas, o estilo da XamAM questionado até a última gota.Mas a mulher da terra acreditava e seguia seu destino. Muitas vezes sozinha, chorando na mata, pedindo ajuda a seus avós. Sem compreender porque tanta perseguição olhava o infinito e clamava por justiça e força.O tempo, companheiro do espaço a acolhia e dizia baixinho, paciencia. A Europa a chamou e a Alemanha a resignificou, em seguida vieram Itália e Suíça.
Hoje, o xamanismo é aceito, virou moda e a XamAM segue feliz pelos caminhos que ela mesma escolhe fazer, livre por conhecer a vida e confiar em sua própria sabedoria ditada pela Deusa Mãe. E tantos/as que a condenaram, hoje se dizem xamãs. "É verdade, muitos/as desses/as que aí estão nunca suportaram uma busca da visão por mais de tres noites, reclamavam do frio, dos jejuns...mas o tempo segue seu percurso e o espaço sua rota."