quarta-feira, 26 de maio de 2010

Carta da Turquia

A XamAM sonhou durante quase dez anos em ir a Turquia, especificamente visitar a cidade de Konia, onde Rumi, o poeta místico viveu. O poeta nasceu no Afeganistão, mas por motivos familiares sua família mudou-se para Konia, região pertencente à antiga Anatolia. Era um eminente professor de filosofia muito amado por seus discípulos. Sua vida era uma vida comum. Um dia, encontrou-se com um homem, Shams e sentiu Deus nele, descobriu o amor divino e tornou-se um poeta, um dervixe que girava horas sem parar, olhando as estrelas, e falando poesias. Sua vida mudou completamente. Foi inundado pela tolerância, compaixão e paciência, as três qualidades que o acompanharam durante toda sua vida. Conseguiu unir religiões normalmente intolerantes entre si: muçulmanos, judeus e católicos, todos giravam com ele e se deleitavam com sua poesia.

Primeiro dia – a XamAM andou pela cidade de Konia, entrou em algumas de suas inúmeras mesquitas, sentiu a terna energia daquele povo e finalmente chegou ao museu de Mevlana (que significa homem gentil), Mevlana Rumi, como é conhecido em Konia. O coração da XamAM batia forte quando entrou na antiga mesquita. O som da flauta devocional, a sala onde antigamente os discípulos estudavam ajoelhados o Koran, as tumbas de Mevlana e de sua família, a sala do giro e a antiga mesquita eram verdadeiramente uma magia de um sonho transformado em realidade.

Segundo dia – Seguiu a XamAM para uma visita à cidade de Sille, onde haviam cavernas incrustadas nas rochas, local onde em tempos passados as pessoas moravam e meditavam, viu o artesanato da região e em seguida seguiu para ver algo que a fascinava. A cidade de  Ça- talhöyük, descoberta nos anos 90. Uma antiga civilização que tinha a Deusa Mãe como sua Amada. As habitações eram coladas umas às outras, não tinham portas e a entrada era pelos telhados. Para dormir eles entravam em suas construções feitas com barro, mato seco e água, ali também eram enterrados seus mortos. Muitas pinturas rupestres e uma bela estatueta da Deusa feita em argila davam o toque de magia e beleza ao local. A XamAM confirmava mais uma vez dentro dela mesma sua linhagem, a linhagem da Deusa Mãe.
Terceiro dia – Era o último dia da XamAM na cidade generosa de Konia. O retorno ao museu de Mevlana Rumi era a meta maior, além da visita à mesquita de Shams, o inspirador de Rumi. Cedo ainda, seguiu para o museu e agora, sem ansiedade pôde se deleitar de cada espaço, caminhando vagarosamente por cada sala, extasiada com a arte e beleza do local. Dessa vez pôde observar melhor um dos locais mais importantes do museu: a cozinha. Era ali, naquele local que o discípulo decidia seguir ou não aquele caminho. Ele deveria ficar durante três dias ajoelhado observando tudo que se passava no local. No terceiro dia decidia se tinha ou não forças para continuar o caminho que prosseguiria por 03 anos estudando 18 matérias. Só depois disto tudo é que seria considerado um dervixe. Em seguida a XamAM sentou pertinho da fonte, leu Rumi e bebeu da água sagrada. Com o corpo e a alma nutrida se despediu do local e foi concluir sua viagem devocional na mesquita de Shams. O silencio, a solitude eram a tônica dali. A XamAM meditou, orou, agradeceu e seguiu seu caminho na vida.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Matrimônio Interior

Alemanha
A natureza nos aguardava com sua beleza e o sol festejava nossa chegada no local: Hellenthal (Eifel), casa de Abrahm, Alemanha. O trabalho iniciou com uma bela dança de lenços formando mandalas e aproximando cada participante de si mesmo e do outro. Em seguida, práticas corporais exercitando a revelação do medo corporal e como relaxar no próprio medo. Logo após um pequeno intervalo, um belo círculo de partilha, estórias e os abraços de boa noite.
Dia seguinte a preparação para o rito do Matrimônio Interior, o significado do verdadeiro matrimônio era profundamente trabalhado, a dualidade tornando-se Unidade. A fogueira, os cânticos, as mandalas, as oferendas... à tardinha, o belo rito fazendo-se. Arroz e milho sendo ofertados aos seres da natureza, o pôr do sol, nossa árvore sagrada que a tudo abençoava. Logo após,nossa cabana da purificação, onde mergulhamos em mundos paralelos, dobras do tempo e da realidade. Por fim, a celebração, com um belo jantar, bolos e sucos.
Nosso último dia, ainda de madrugada, a meditação dos gongos, nossa consciência se ampliava e os sons nos levavam a campos desconhecidos. Em seguida, um maravilhoso desjejum nos esperava, a partilha final em volta da fogueira, o agradecimento ao local, às pessoas. A hora de mergulhar mais uma vez na realidade do cotidiano nos aguardava, agora seria nosso teste na vida, no dia a dia. Teríamos verdadeiramente mergulhado nos campos benditos de nós mesmas/os e feito o link com nossa realidade ou somente teríamos reforçado a dualidade? Só o tempo poderia dizer.